São Paulo (EFE) – Com uma explosão de sons e cores que ecoaram as vozes dos povos da floresta e a conexão entre as culturas indígenas e afro-brasileiras, o boi Garantido venceu as três noites de espetáculos do Festival de Parintins, conhecido como o carnaval Amazônico, e conquistou nesta segunda-feira seu 33º título da disputa contra o boi Caprichoso.
A maior festa cultural do norte do Brasil reuniu na cidade amazonense, desde a sexta-feira, cerca de 120 mil visitantes, que dobraram a população de Parintins – cidade situada em uma ilha fluvial no rio Amazonas – para viver “a magia” do Boi-bumbá em sua máxima expressão.
Esse movimento folclórico é conhecido por seus tambores e cantos vibrantes, por suas alegorias gigantes e seu colorido, e tem raízes em uma mistura de tradições indígenas, africanas e europeias que remontam ao século XIX, quando a lenda de um “boi que ressuscita” começou a se popularizar entre comunidades rurais.
Após três noites de batalhas artísticas no Bumbódromo – arena em forma de cabeça de boi –, Caprichoso e Garantido encantaram um público de cerca de 25 mil pessoas com espetáculos carregados de críticas sociais e orgulho regional.
Para escolher o campeão da 58ª edição do festival, o júri avaliou 21 aspectos, entre eles, letra e música das canções, alegorias, respeito à lenda amazônica, o amo do boi (cantor e compositor), rituais indígenas e organização do conjunto folclórico.
Garantido, o maior campeão da história de Parintins, superou seu rival por 5 décimos e voltou a vencer.
“O festival ganha muito com a vitória do Garantido. O festival é um produto do nosso estado (Amazonas), da nossa terra, e toda vez que elevamos a qualidade dos nossos espetáculos, também elevamos o valor desse produto e da nossa Amazônia”, disse à imprensa o presidente do Garantido, Fred Góes, que considerou que seu boi conseguiu “mudar a dinâmica da competição”.
VOZES DA FLORESTA E PATRIMÔNIO DO POVO
O Garantido dedicou sua primeira apresentação ao “O ecoar das vozes da floresta”, destacando a diversidade dos povos da floresta por meio da lenda de Tapyra’yawara, uma entidade espiritual de grande poder presente nas cosmologias de diversos povos originários da Amazônia.
Na segunda noite, o Garantido exaltou as raízes populares indígenas e afro-brasileiras e a tradição do Boi-bumbá, e na terceira e última noite levou à arena a lenda da “Deusa das Águas”.
“O fundamento básico é a alma do nosso povo. E o povo é quem faz o espetáculo, quem dá a direção. Aqui, nós fazemos arte, mas de acordo com o que o universo nos orienta”, afirmou Góes.
UMA EXPERIÊNCIA ALÉM DOS ESPETÁCULOS
O Festival de Parintins atraiu mais de 120 mil turistas em 2025, segundo a Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Amazonas.
No entanto, Parintins conquista os visitantes com muito mais do que noites de espetáculos no coração da Amazônia, já que também é possível vivenciar a rivalidade entre Caprichoso e Garantido fora da arena, especialmente durante o mês de junho.
A proximidade da competição transforma a cidade em dois territórios: o azul do Caprichoso e o vermelho do Garantido. Nessas cores, a paixão pelo Boi-bumbá toma conta das ruas, das famílias e das tradições.
Também é possível visitar os galpões dos bois para aprender mais sobre a história do Caprichoso e do Garantido, além da cultura local, e participar dos ensaios.
GASTRONOMIA E TURISMO
A terceira maior ilha fluvial do mundo, acessível apenas por avião ou barco, se destaca por sua gastronomia, de origem indígena e ribeirinha, e oferece aos visitantes sabores autênticos da Amazônia, com pratos à base de peixes como pirarucu, tambaqui e tucunaré.
Também é possível experimentar preparos com diversos formatos e texturas de mandioca; frutas típicas como cupuaçu, açaí e taperebá; e iguarias como tucupi, jambu e maniçoba.
Os visitantes podem, ainda, apreciar construções como igrejas e santuários, além de conhecer marcos da história da cidade, fundada por missionários capuchinhos no século XVIII.
Para os que preferem destinos de natureza, a Serra de Valéria, com 152 metros de altura, oferece uma das vistas mais belas da região e um rico sítio arqueológico. EFE